MUNDO ANIMAL

 

VIDA INTELIGENTE

 

            Só quem convive com um cão pode avaliar suas habilidades. De tão inteligente, só falta falar. Se isso parece conversa de dono babaca, esqueça. Cada vez mais, pesquisas provam a inteligência dos animais. E especialmente dos cães.

            Em 2002, pelo menos três pesquisas significantes apontaram que os cães são capazes de contar, de reconhecer sinais humanos e até mesmo se comunicarem de uma forma mais aprimorada.

            Na Universidade de São Paulo, uma vira-lata aprendeu a manifestar-se a respeito da fome, da sede, ou da vontade de passear. Isso através de um painel com símbolos arbitrários. O estudo provou até que ponto os depoimentos de donos de cães podiam ser levados a sério.

             Feito em duas etapas, o estudo primeiro estimulou a vira-lata a “falar” e assim pode verificar suas habilidades em compreender a linguagem humana. Rapidamente, ela aprendeu como usar um painel eletrônico com sinais arbitrários que utilizavam palavras como comida, xixi, casinha, carinho, água, passear e brinquedo.

            Um zootecnista participou do estudo declarou, na época, ser possível afirmar que um animal é inteligente em termos de comunicação se ele tiver flexibilidade.

            Uma das coisas que chamou a atenção da vira-lata nas pesquisas foi que se a vontade dela não fosse atendida rapidamente, ela voltava ao painel e insistia naquilo que desejava, apertava o botão correspondente ao que queria e ficava olhando insistentemente para os pesquisadores antes de iniciar o estudo, os pesquisadores ouviram mais de  quatro mil relatos de donos de cães.

            Um outro estudo feito com cães e que foi publicado na revista Science, reforçou ainda mais a imagem dos donos de que seus cães entendem o que está acontecendo em volta deles, como quando estão se preparando para sair de casa por pouco tempo ou para uma viagem.    

Também uma pesquisa feita pela Universidade de Harvard, nos E.U.A., apontou que os cães são animais que melhor  compreendem os sinais humanos. E que nem mesmo os chipamzés, que estão mais próximos do ser humano em evolução, ou lobos domesticados, tiveram o mesmo desempenho.

Para o coordenador da pesquisa e professor de psicologia experimental da USP, César Ades, o desafio do estudo que acrescentou uma variável ao exercício, era mostrar que a vira-lata seria capaz de executar operações cognitivas complexas. “Tentamos complicar a vida do bicho e ver até onde ele é capaz de resolver.”, disse.

Uma definição para cognição animal é a sua capacidade de resolver  um problema sem experiência prévia. É também sua propriedade de ser flexível, agindo da melhor forma possível em uma situação nova.

            Dos lobos advêm as características que  os cães têm de lealdade e respeito aos homens. Dois estudos publicados também na revista Science mostram que os cães descendem  de lobos domesticados pela primeira vez na Ásia, há 40 mil anos. Esses animais tiveram de aprender a entender o ser humano para ser capaz de viver com ele. Para os entendidos no assunto, foi a capacidade cognitiva dos cães que permitiu essa adaptação.

            Segundo o pesquisador Eduardo Ottoni, especialista em comportamento animal na USP, não é por acaso que o cão é a espécie mais antiga a se relacionar com os homens. Na cabeça do animal não somos uma outra espécie, mas membros de um grupo que se espelhou na sociedade dos lobos, que vive em harmonia por compreender a hierarquia da espécie sendo fiel ao líder.

 

 

No livro, “Os cães sabem quando os donos estão chegando”, que reúne pesquisas cientificas que explicam os poderes surpreendentes desses animais de estimação, o Dr. Ruppert Sheldrake, respeitado pesquisador da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, reuniu diversos casos que provam que animais apresentam uma percepção apurada, que muitas vezes escapam à compreensão da ciência.

            O estudo do Dr. Sheldrake nos faz refletir sobre o comportamento de nossos animais de estimação e a reavaliar seus estranhos e adoráveis poderes.

            Mas, principalmente, nos faz repensar no quanto podemos ser assassinos cruéis e frios quando condenamos os animais a uma vida miserável e a uma morte desnecessária.