REFLEXÃO SOBRE AS ELEIÇÕES MUNICIPAIS


Uma rápida e insuspeita leitura dos resultados das ultimas eleições municipais nos revelam, sem sombra de dúvidas, que reina em grande parte da população, um sério descontentamento com os aspectos sociais da atual política governamental.

Os problemas sociais se agravaram, atingindo sobretudo as camadas mais pobres da população. Saúde, educação, segurança e desemprego refletem um estado geral de insatisfação, aliado a fatos notórios de corrupção e privilégios instalados em instâncias superiores do poder.

No exercicio da democracia, o instrumento de protesto e cidadania é o voto livre. É o "grito das urnas" que chega aos governantes como avisos e reflexos que precisam ser considerados para as mudanças de rumo, sob pena de corrermos riscos de ruptura no Estado Democrático ou de aventuras políticas que tendem a suprimir as liberdades de expressão e as manifestações populares reivindicatórias.

Não se pode subestimar a forma, até certo ponto agressiva dos movimentos populares dos sem teto e dos sem terra, provavelmente imbuídos da intenção de pressionar o poder público a tomar decisões mais rápidas e efetivas para a solução do problema de moradia e do acesso à terra a quem deseja trabalhar e produzir na agricultura.

Não é possível aceitar com paciencia e sentimento cristão o que se passa com a infância e a juventude do nosso País. Clama por providências urgentes o drama diário de crianças nos sinais de trânsito, maltrapilhas, sujas, com tubos de cola nas mãos, às vezes, em atitudes agressivas abordando veículos ou transeuntes.

Um quadro que sem dúvida agride aos que vêem nessas crianças e adolescentes, em vez de cidadãos do futuro, prováveis hóspedes das degradantes e desmoralizadas febéns.

As frequentes rebeliões que assistimos horrorizados nas redes de televisão e na imprensa diária oferecem a dimensão de um problema cuja solução parece cada dia mais distante.
Quanto à segurança, é insuportável atinar para os riscos que corremos hoje ao afastarmos do portão da casa ou até mesmo no interior dela, pois os mais requintados processos de vigilância eletrônica não impedem a ação de marginais, possuidores de sofisticados arsenal, capaz de fazer inveja à própria policia incumbida de nos proteger contra assaltos e sequestros.

Num país onde se falsifica remédios, se saqueia a Previdência Social, se procrastina as soluções para a geração de emprego, se privilegia setores da sociedade com benesses e favores e se esquece das camadas menos favorecidas, não há esperança de paz e de estabilidade social e democrática.

A chamada da estabilidade da moeda, por certo, interessa ao País, mas se isto não é um fator de distribuição de renda e equilibrio social, estamos correndo sérios riscos de ampliar a pobreza e a miséria dentro deste perverso processo de globalização, no qual o aspecto econômico e financeiro prevalece sobre o social.

O resultado das eleições nos parece foi um recado direto, dado explicitamente, e cabe ao governo e à população analisá-los com insenção de ânimo, independentemente de quem se elegeu ou de partidos políticos vitoriosos.

CL HELVIO AZEVEDO DE QUEIROZ
publicado no boletim CENTRO AVANTE ( e-mail: helvioaq@zipmail.com.br )
LIONS CLUBE DE RECIFE/CENTRO (PE)
novembro/2000